No tempo das amoras tudo pode acontecer.

4 de abril de 2011

show must go on

Maria caminhava para a sala com a bôla na mão e um sorriso tonto na cara.

-Olha, vieram cá trazer a bôla, ainda bem, pelo menos já temos alguma coisa para meter à boca e enganar o estômago. Já viste que estamos à imenso tempo sem comer?
-Não me apetece nada Maria, uma bola é o que eu tenho no estômago e um nó é o que tenho na garganta. Aquele senhor Manuel é um querido. Estão com a nossa família desde sempre.
- Tens uma família muito agradável então. Quem veio trazer cá isto não foi o senhor Manuel, foi o filho, um moreno todo interessante e interessado! Disse que estava ao teu dispor porque sabia que tinhas medo de estar cá sem o Miguel.
- Está cá o Zéca? A sério? Ainda bem que não fui eu quem foi à porta. Conheço o Zeca desde sempre. Crescemos juntos, brincamos juntos.
- Ele ainda mora cá?
- Não! O Zeca é Enólogo. É responsável por uma marca de vinhos conhecida. Eu não percebo nada disso, sabes que detesto vinho, mas ele tirou essa licenciatura e pouco depois foi para o Douro trabalhar. Só cá vem de vez em quando.
- Parece-me muito bem. - Maria esboçou um sorriso maroto enquanto partia com a mão um pedaço daquele manjar.
-Não te ponhas com ideias. Já te conheço e não é de hoje. O Zeca é um querido mas já nem me lembro de o ver. Importas-te de te focar no meu problema e não andar a tentar arranjar-me outro problema?
- EU?! Que coisas pensas tu de mim amiga... mas sabes como diz a cantiga... show must go on.
-Deixa-te disso Maria. Dá cá então um pedaço disso que o cheirinho abriu-me o apetite.
-mhhh foi só o cheiro?
- Mau!!

Enquanto as amigas conseguiam um momento de distracção na quinta, no carro a viagem de regresso ao Porto fazia-se de forma complicada. Miguel estava catatónico no banco do pendura e João não sabia o que fazer, o que dizer e muito menos para onde o levar.

-Ficas em minha casa hoje meu.
-Não posso, tenho o fim de semana para tirar as coisas de casa, a Rosa foi bem clara.
-A Rosa está magoada pá. Querias que te dissesse o quê? Querias que te dissesse para deixares tudo para lá e que não se tinha passado nada? Não pode.
-Ela não me quer ver mais à frente, conheço a Rosa.
- Não nos próximos tempos, mas deixa as coisas acalmarem um pouco. Hoje não vais nada para casa, a menos que queiras que fique contigo. Não estás em condições de ficar sozinho. Além do mais a minha mulher fica em Cerveira e eu não gosto de ficar sozinho na minha casa por isso olha, pensa que nem é por ti, é por mim.
- Se quiseres ficas então em minha casa mas eu tenho de tentar perceber lá a verdadeira dimensão desta confusão toda que ficou a minha vida.
- Combinado. Vou só a casa buscar um kit básico de sobrevivência. Queres parar para jantar?
- Se quiseres parámos mas eu estou sem fome.
- Seguimos então, assalto o teu frigorífico no Porto.

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