No tempo das amoras tudo pode acontecer.

5 de abril de 2011

As noites em Cerveira arrefeciam verdadeiramente, contrastando com o calor que se fazia sentir durante todo o dia.
As duas amigas enroscaram-se numa manta e puserem-se à conversa no sofá da sala. A televisão praticamente não apanhava sinal.

-Amanhã tenho de ir falar com o senhor Manuel para ver se ele me arranja a antena. Certamente com o vento deslocou-se. Assim nem televisão podemos ver.
-Se eu fosse a ti pedia antes ao filho. Ele mostrou-se tão prestável.
-Não comeces Maria! Vais tentar cansar-me com esse assunto!
-Oh lá estás tu a levar para onde não deves! Eu só disse que era melhor falar com o filho porque é mais novo. O senhor Manuel já não tem idade para andar a subir assim aos telhados.
-O Zeca não é cá funcionário, não tenho de o chatear com esses assuntos da propriedade.
-Pronto está bem... Mas já agora ele é casado?
-Não. Ele namorou durante algum tempo com uma miúda cá da aldeia. Estudaram os dois em Bragança mas terminaram pouco tempo depois de ele ter ido para o Douro.
- E porquê?
-Olha que tu tens cada uma! Sei lá eu porque é que acabaram. Achas que é assunto que eu aborde? Já nem me lembro de o ver quanto mais falar dessas coisas.
-Não me lembro dele no teu casamento.
-Ele não foi. Não estava cá na altura. Estava em Itália a fazer o mestrado. Tem uma tese sobre um vinho lá da Sicília acho eu.
-Parece-me muito bem sim senhora. E parece-me um desperdício o rapaz não ter namorada!
-Eu não disse que ele não tinha namorada, só disse que não conhecia.
-Amanhã vou saber disso. Não olhes para mim assim, já sabes que sou curiosa, é só por isso.
-Maria que raio vou eu fazer à minha vida. Era nisso que devias estar a pensar, em vez de estares a gastar energia com tontices.
-Rosa estava apenas a distrair-te, a aliviar o ambiente amiga...
-Pois mas o problema está cá na mesma!

O telefone de Rosa tocou naquele momento.

-É o meu irmão! Que estranho que quererá ele? Estou, Jorge?
-Olá Rosa, estás bem?
-Mais ou menos, porque me estás a ligar?
- Porque quero saber o que se passou entre ti e a Carla. Acabou de me ligar a dizer que se demitia e quando perguntei o porquê ela disse para eu falar primeiro contigo...
-Óptimo, Poupa-me imenso trabalho.
-Rosa não aceitei a demissão, não posso aceitar... Ela não fez nada à empresa.
-Fez-me a mim, andou metida com o Miguel, andam os dois a enganar-me há imenso tempo.
-Como?
- É o que ouviste.
-... Rosa , está tudo a quente, Não posso demiti-la por questões pessoais.
-Não vais precisar de a demitir, ela despediu-se.
-Temos imensos projectos em mão Rosa, a Carla é fundamental neste momento, ela sabe muito sobre a empresa...
-Também eu sei muito dela...
-Rosa, sei que estás magoada mas vou ter de falar com o pai. Ele vai ter de decidir, bem sabes que eu não mando nada.
- Ok, fala com ele logo vês o que ele diz.
-Tu estás onde?
-Em Cerveira, mas por favor não lhe digas que estou aqui. Estou com a Maria, estou bem, e ele por favor que não diga nada à mãe, quero falar com ela pessoalmente. Com o pai também, mas como esse assunto me parece pendente... adianta só o que precisares.
-Também não sei muito, não posso adiantar muito.
-Depois falo também contigo. Xau. Beijo
-Rosa se precisares de alguma coisa diz-me por favor... beijo.

-Já se despediu.
-Fez muito bem, pelo menos isso...
-Ela é muito esperta. O meu pai não vai aceitar a demissão dela, o Jorge encarrega-se de o convencer disso.
-O Jorge? Porquê?
-Vais ver... O Jorge é tolo pela Carla,bastava ela estalar os dedos...
-Pois...

As duas amigas aconchegaram-se melhor nas mantas e Rosa adormeceu enquanto as lágrimas lhe escorriam pela face. Não sabia por quem se sentia mais traída se pelo marido se pela amiga que sabia que agora lhe ia fazer a vida num inferno todos os dias.

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