No tempo das amoras tudo pode acontecer.

27 de fevereiro de 2012

A tarde passou num ápice e Rosa nem deu pelo tempo passar. A ideia do marido a tentar incendiar o património dela parecera-lhe absurda. Quase tão absurda como se há 4 dias atrás lhe tivessem contado que o marido andaria enrolado com a amiga. Não queria nem imaginar algo semelhante.
rosa preparava-se para sair do escritório quando o seu telemóvel tocou. Era da polícia. Tal como o pai previra também ela foi contactada apara prestar declarações no âmbito do processo do incêndio.
- Menina Rosa? Sou o inspector Almeno Cunha e gostaria de ouvir umas declarações sobre o incêndio que aconteceu ontem na empresa do seu pai. Amanhã é possível para si?
- bom, se pudesse ser pela hora do almoço agradecia, tenho um dia um pouco ocupado amanhã.
- Perfeito. Às 13 passe aqui pela esquadra para termos uma conversa. Não se preocupe não é uma intimação. 
- Muito bem a essa hora está óptimo para mim. Boa tarde.
Rosa foi o caminho todo a pensar naquilo. Que raio lhe iriam perguntar?! E o que ia ela responder? Será que já tinham chamado o Miguel para falar? Estava a roer-se por dentro. Dirigiu-separa casa e no fundo esperava que o ainda marido lá estivesse para saber se tinha também comparecido na esquadra. 

26 de fevereiro de 2012

Rosa passou o dia a tentar que ninguém no trabalho desse conta da reviravolta que a sua vida havia dado no fim-de-semana. Também ela tinha a ideia de manter a aparência de que tudo estava bem e nada a abalava. Ensinamentos dos pai. - Quem te vir em baixo vai querer ver-te mais em baixo ainda, por isso nunca se mostra o rabo filha, não falta gente que nos queira ver mal. - As palavras do patriarca eram sábias. Mesmo quem considerava pessoas de confiança haviam sido capaz de uma atrocidade daquelas quanto mais colegas de trabalho que respiravam inveja por todos os poros.
O telemóvel de Rosa tocou às 5 para a uma, altura que se preparava para ir almoçar. Era o seu pai.
- Sim?
- Rosa, filha, a polícia já te ligou?
- Polícia? A mim não. Porquê, é suposto ligarem-me por algum motivo?
- Sim, por causa do incêndio. Foi fogo posto, por isso eles estão a interrogar toda a gente. O teu irmão já foi ouvido hoje durante a manhã.
- Eu não tenho nada a ver com a empresa pai, não tenho nada que ser ouvida.
- Eu acho que eles suspeitam de alguém de dentro da empresa ou da família. Sabes como são os seguros...
- Só me faltava mais essa agora, pensarem que eu peguei fogo àquilo, eu nem estava cá papá...
- Não me parece que desconfiem diretamente de ti.
- Direitamente? Como assim?
- Tenho para mim que suspeitam do Miguel. O meu interrogatório foi todo em torno do teu marido,  e o do teu irmão também. Certamente já foi ouvido também...
- Isso é um disparate pai. Mas não me importa que me liguem e eu responderei o que souber.
- Pronto filha era só para não te apanharem desprevenida.
- Eu nunca estou desprevenida pai, tu ensinaste-me isso em teoria e a vida encarregou-se de me mostrar a parte prática. 
-Cuida-te filha.
- Adeus pai.
As palavras do pai ecoavam na cabeça. Quem poderia fazer uma coisa daquelas e com que propósito? Seria o Miguel capaz daquilo? E com que intuito? 

22 de fevereiro de 2012

Rosa acordou com o sol a bater-lhe na cara pelas frinchas da persiana. Teve de pensar duas vezes onde estava, não estava habituada a tomar medicação para dormir, sabia de antemão que quando o fazia tinha direito a acordar completamente atordoada. 
Lembrou-se de Miguel. Será que ainda estava a na sala? Estava decidida, se estivesse ia pura e simplesmente ignorá-lo.
Tomou um duche rápido, vestiu-se como se de um dia normal se tratasse e sem esquecer do detalhe do perfume saiu do quarto, pronta para mais um dia.
Miguel estava na sala. Acordado, sentado no sofá, mexia de forma sonora uma caneca de leite com café que fumegava mais do que deveria para um dia de calor como o que estava.
-Rosa, bom dia, fiz café quente. - lançou Miguel na esperança de que a mulher lhe dirigisse a palavra. 
- Se fizeste café não deverias ter feito. Nem sei o que estás aqui a fazer, pensei que tinha deixado bem claro que não te queria mais aqui. Não queria nem quero. 
- Esta casa também é minha Rosa.
- Se quiseres então saio eu, esta casa é minha e tua, não é mais nossa. Pago-te a tua parte e passa a ser só minha. Acho que vai ser fácil fazer as partilhas. O contracto pré nupcial que os teus mais nos obrigaram a fazer vai dar muito muito jeito. 
Aquando do casamento, os pais de Miguel haviam falado em fazer um acordo pré nupcial. A vida havia-lhes corrido muito bem e tinham medo que Rosa pudesse querer o filho por interesse. Os pais de Rosa tinham alguns bens mas na altura a empresa destes não corria tão bem como hoje, constava-se que poderiam ter algumas dívidas e que a falência se aproximava. Uma parceria com uma empresa alemã viera dar novo alento à firma que começou a ser a mais rentável da zona e a dar cartas no mercado internacional. Ao contrário os pais de Miguel que se encontravam muito perto de uma falência declarada.
-Não achas um pouco precipitado Rosa? Tens a certeza que queremos isto?
- Desculpa? Estas a gozar comigo não estás Miguel? - Rosa  pegou na sua mala e numa maçã da cozinha e dirigiu-se para a porta de saída lançando para o ar um: - O meu advogado depois fala contigo, se não tiveres para onde ir para já, avisa-o que eu arranjo, os dois aqui, não obrigado.
Passou a porta de entrada e sentiu-se bem, aliviada. Ergueu a cabeça a pensou " bom dia mundo".

17 de fevereiro de 2012

Rosa acordou de madrugada com uma brisa a entrar pela janela. Eram 3 da manhã. Tinha conseguido descansar   mas continuava a sentir uma tonelada sobre os ombros. Atordoada, abriu a porta e viu Miguel deitado no sofá, vestido mas adormecido.
Voltou a fechar a porta silenciosamente e pensou "não consigo, não vou correr o risco de o acordar". Fechou a janela e voltou para a cama.
A cabeça voltou a mil. Não poderia ficar no quarto eternamente. De manhã tinha de ter força novamente para enfrentar o marido. Sabia que tinha de ser forte. Ensaiou mentalmente mil e uma posturas e imaginou diálogos. Uma coisa era certa, não iria entrar em conflito. Já chegava de guerrilhas.
Já não chorava. Era esta distancia da situação que esperava ter na manhã seguinte.
Adormeceu novamente, com a esperança que na manhã seguinte não estivesse ninguém na sala.

14 de fevereiro de 2012

o reencontro

Miguel chegou a casa e tudo lhe parecia igual a como quando tinha saído à pressa. A sua vida estava completamente voltada do avesso.
Tinha acompanhado o sogro na visita ao rescaldo do incêndio e os estragos não pareciam tão avultados como inicialmente se pensava. O comandante havia sido muito claro. Tinha sido fogo posto.
Um trabalho de amadores segundo o comandante. O incendiário usara simples acendalhas e um pouco de gasolina para dar inicio ao fogo. O diálogo entre o comandante e o sogro não lhe saía da cabeça.

- Quem fez isto fez de propósito e não sabia bem o que estava a fazer. Começou pelas acendalhas e depois acrescentou a gasolina e adicionou alguns desperdícios certamente. 
- Nem consigo acreditar, fogo posto? esta empresa trabalha de maneira regular tempos tudo em dia, os trabalhadores de uma maneira geral gostam de estar por cá, mantenho os mesmos funcionários à décadas e conheço-os a todos pelo nome próprio. Não vejo ninguém capaz de me querer assim mal.
-Pois, mas olhe terá um problema porque a judiciária vai ter de investigar. Tudo que envolve fogo posto declarado é crime e implica investigação. Ainda mais neste caso, tão flagrante... O próprio seguro vai exigir uma perícia... 
- Claro, compreendo perfeitamente, no caso deles faria o mesmo. E eu próprio preciso de descobrir o que aconteceu... fogo posto?! na minha empresa?! ainda não estou em mim....
- Não devia estar aqui a meter a colherada porque isto agora é da competência da policia mas... Quem fez isto, na minha opinião conhecia bem a fábrica e sabia o que queria. Não se encontram facilmente desperdícios na zona dos escritórios, digo eu....
- Ainda mais essa, a certeza que é alguém da minha confiança.... Que fase terrível, logo agora que estava a pensar dedicar-me mais a passear com a minha mulher já com os filhos criados é que me acontecem estas coisas que me estão a mudar o rumo. O meu e o dos meus que estão com as vidas do avesso. - O pai de Rosa virou a cabeça para o genro e murmurou insipidamente - Acho que está na altura de você ir ter uma conversa de homem com a minha filha, não lhe parece Miguel? Boa sorte, vai precisar dela.

Ao entrar em casa Miguel pesou que não encontraria a mulher, até que viu a mala dela atirada para o sofá e sentiu o coração aos pulos, avançou para o quarto, respirou fundo mas a porta estava trancada. Bateu à porta, sem resposta, chamou pela mulher suavemente mas a resposta foi a mesma. Decidiu aguardar, hoje era dia de ficar na sala, Rosa haveria de sair do quarto. Tinha tempo.

12 de fevereiro de 2012

regresso a casa

Rosa demorou quase uma hora no banho. Esperava que um duche demorado lhe levasse para longe as memórias do fim de semana tenebroso e lhe lavasse a mágoa que sentia ferver por dentro. O banho sempre fora para si uma espécie de terapia. Quando um problema a assombrava cumpria todo um ritual que incluía música chill out, incenso com aroma a frutos silvestres e um gel de banho que tinha comprado da primeira vez que fora a Londres. Esta era aliás a compra que repetia em doses industriais sempre que voltava a terras de sua majestade. O aroma de baunilha e canela do gel de banho combinava na perfeição com o aroma a frutos silvestres do incenso e o banho acabava por revelar-se verdadeiramente um momento de prazer.
Lembrava-se perfeitamente dessa primeira viagem a Londres. Uma viagem de amigos onde o Miguel também tinha participado. Teriam uns dezanove anos e foi a sua primeira viagem grande sem os pais. O aroma do gel de banho trazia-lhe sempre as memórias dessa viagem, cheirava a liberdade e a felicidade.
Naquele fim de tarde fora a excepção. Nem o banho conseguia apagar o que Rosa sentia. Saiu do banho, enrolou-se na toalha, besuntou-se com o seu hidratante preferido e meteu-se na cama. Tomou um comprimido e trancou a porta do quarto, não fosse chegar o Miguel.
Enrolou-se na cama com o edredão por cima, tal como um bichinho em posição fetal, esperando que lhe trouxesse algum conforto. Adormeceu cansada de tanto chorar

sondagem

Já estava pensado há algum tempo e ainda não sei se irá resultar. A minha ideia é que vocês, leitores, decidam qual o final das histórias que vão sendo publicadas. Assim,esta primeira sondagem servirá para que vocês decidam se no final da história a Rosa e o Miguel deverão ficar juntos novamente. Será simples, as respostas desta vez passam só por:
*Deverão ficar juntos no final.
ou *Cada um deverá seguir o seu rumo.
O resto do enredo, se não se importarem escolho eu, boa?
Para votar basta clicar na barra lateral. Parece-vos uma boa ideia? Toca a votar....



Esta sondagem encerrará no final do mês de Fevereiro, sendo que a história da Rosa e do Miguel tem o final marcado para o principio de Março.

7 de fevereiro de 2012

Após um pequeno silêncio Maria decidiu que devia dar um puxão de orelhas à amiga. Nunca foi de ficar muito tempo em silêncio, muito menos se tivesse alguma coisa para dizer. Costumava dizer que tinha uma garganta larga, nada lhe ficava atravessado, o que tinha a dizer saía logo, sem pensar duas vezes.
-Rosa isto não são maneiras de falares com a tua mãe. Coitada, já viste o sofrimento dela também? Nem te passa a angústia da mulher enquanto não sabia do teu irmão e tu sais dali assim, sem dizer água vai?!
-Maria, os meus pais assim o querem. Sabem da historinha que o meu irmão contou e já estão a tomar o partido do Miguel. Ninguém me perguntou nada, se estava bem, se precisava de alguma coisa, o que se tinha passado, NADA! E o meu pai ainda acha que o Miguel é que deve ir com ele avaliar estragos na fábrica. Não é normal. 
- O teu pai só fez isso para te proteger, provavelmente não quis que corresses perigo ao visitar as instalações após um rescaldo, convenhamos que não será propriamente fácil.
- O que não é propriamente fácil é aguentar o que eu estou a ver que vai ser a minha vida. - Os olhos de Rosa encheram-se novamente de lágrimas -  Agora vou para a minha casa Maria e o que vou encontrar lá? Outro rescaldo com consequências bem mais graves do que este que abalou a empresa. 
Chegaram a casa de Rosa rapidamente. Não havia transito na cidade, aparentemente todos os condutores de Domingo haviam escolhido outra zona para passear.
O portão abriu-se e nunca aquele barulho familiar e quotidiano pareceu tão angustiante. Ambas fingiram não sentir e o carro deslizou para a garagem.
-Tens a certeza que queres ficar cá? Não queres vir antes para minha casa até isto se resolver?
-Isto está mais que resolvido. O Miguel vai ter de sair cá de casa. Quem fez a despesa agora que pague a factura. Que vá para a casa da Carla se assim o entender, vai custar-me mas esta é a minha casa, eu fico. E tu vai-te embora que já são mais do que horas.
- Tens a certeza que ficas bem?
- Não te preocupes. Já fizeste muito. Até amanhã. Qualquer coisa eu ligo-te, já sabes que sou abusadora.
- Pois sim, está bem está. Tem calma. Toma um calmante que dormes que nem um anjo.
Maria atirou um beijo à amiga e voltou a sair da garagem. O tempo passara e nem se dera conta que o seu marido fazia anos no dia seguinte, por pouco esquecia-se que tinha toda uma festa programada. Voou para casa.
Rosa rodou a chave na fechadura da porta de entrada e respirou fundo. O que iria encontrar? Será que o seu marido já havia cumprido aquilo que ela o obrigara a fazer? Será que tinha feito a mala? Fechou os olhos e entrou.
O aroma da casa estranhamente tranquilizou-a, ao contrário do que imaginara, voltar a casa não foi tenebroso, mas antes apaziguador. 
O bolo continuava no mesmo sitio, em cima do balcão da cozinha. Faltava apenas a fatia que a amiga havia cortado e que jazia intacto ao pé do computador, onde havia sido estrategicamente colocado. O computador, esse tinha sido desligado. 
O atendedor de chamadas acendia freneticamente a luz vermelha. Claro, devia estar inundado de chamadas... Estava sem paciência para ouvir a repetição dos capítulos anteriores, ignorou as mensagens e trancou-se no quarto.
-Um banho, eu preciso é de um bom banho. 


6 de fevereiro de 2012

alívio

Miguel atendeu o telefone aguardando por noticias do cunhado.
- Estou, Jorge, onde te meteste pá?
- Vim com a Carla lanchar à foz, estava no escritório e ela apareceu para conversar e acabamos por vir à foz. Não ouvi o telefone. Mas porque é que me estão todos a ligar tantas vezes? O que se passa?
- Passa-se que houve um incêndio enorme cá na fábrica. Ainda por cima tinhas aqui o teu carro andava tudo tolo, pensávamos que tinhas ficado lá dentro.
-Um incêndio? como assim? Vamos já para aí.
- O teu irmão está bem, já vem a caminho, foi lanchar e não ouviu o telemóvel.
- Foi lanchar? Onde? A pé?
- Foi no carro com  a Carla à foz.
- Ah pois faz sentido. Tudo aqui em pé de vento e ele ainda anda metido com essa...
- Filha por favor. Está tudo bem com o teu irmão, importas-te de te concentrar nisso? - O pai de Rosa sempre fora uma pessoa controlada. Se havia coisa que não conseguia ver era os filhos descontrolados. Sempre lhes dera uma educação baseada na responsabilidade e esperava que isso fizesse deles adultos calmos e compreensivos. Rosa nunca foi calma e nunca havia visto com bons olhos o "eterno romance" que existia entre o seu irmão e a sua "amiga". Sabia que era uma espécie de jogo para que a empresa fosse um terreno fácil para a amiga se manobrar. Jorge por sua vez nunca conseguiu encontrar ninguém que o fizesse tão feliz como Carla. Rosa sempre esperou que Jorge encontrasse uma cunhada à sua altura, tal como ela pensava ter encontrado um marido "perfeito".
- Rosa mexe-te vai avisar a tua mãe que está tudo controlado e que o teu irmão está bem. Vem aí o comandante, vou com ele avaliar os estragos, Miguel venha comigo.
- Pai o Miguel não tem mais nada  a ver com a nossa família, não precisa de ir consigo, eu vou.
- Rosa, não estou a discutir estou a informar-te. O Miguel vem comigo.
Rosa nem queria acreditar. No meio disto tudo ela é que estava a ficar para trás. Andou decidida até à mãe.
- Mãe o Jorge está bem, já vem a caminho. O incêndio está controlado o pai foi com os bombeiros avaliar os estragos. Vou para casa, já vi que não sou precisa aqui. O Jorge está a chegar com a Carla, não vou ficar aqui a assistir a novelas de segunda. Se precisar de mim sabe onde me encontrar vou para a minha casa. A Maria vem comigo.  
- Mas filha....
- Sem discussão mãe o pai foi muito claro. Se a mãe precisar de mim sabe onde me encontrar.
Rosa despediu-se da mãe com um beijo na cara e seguiu sem olhar para trás acompanhada da amiga.

4 de fevereiro de 2012

confusão

Miguel praticamente não conseguia ouvir o sinal de chamada do outro lado da linha tal era a confusão à sua volta. As suas mãos tremiam mas não mais do que o seu coração que pulava de raiva ao saber que teria de confrontar Carla novamente, ainda que fosse à distancia de um telefonema. Do outro lado apenas o sinal de chamada, da Carla nem sinal. O toque repetido da chamada foi interrompido pelo atendedor automático conferindo a Miguel um grande alivio.
- Carla é o Miguel, preciso de te perguntar se sabes alguma coisa do Jorge. Assim que possas liga-me a mim ou ao meu sogro se preferires. É grave.
Miguel desligou e sentiu-se o maior cobarde à face da terra. O alivio que sentira por não ter de enfrentar a sua companheira de aventura era prova disso. Queria que ela ligasse para o sogro só para não ter de a enfrentar, ainda que o assunto fosse tão grave como realmente era.
-Não atende. Talvez fosse melhor ser o teu pai a ligar-lhe dadas as circunstâncias. 
- Pois é capaz de ser melhor é. Melhor, vais ligar tu, do telemóvel do meu pai. Ele não sabe de nada em concreto.
Miguel engoliu em seco mas anuiu.
O intercomunicador do comandante dos bombeiros soou e a noticia era boa. Finalmente algo para acalmar os corações inquietos.
-Os meus homens acabaram de me comunicar vou só confirmar mas em principio posso dar o incêndio como extinto. Assim que estiverem reunidas as condições de segurança venho buscá-lo para que possamos fazer uma avaliação dos resultados. 
Rosa abraçou o pai, finalmente uma noticia melhor. Mas continuava a faltar o Jorge. Nisto o telemóvel de Miguel toca. Era o cunhado, pelo menos, era o seu número.
Rosa ultrapassou a barreira colocada pelos bombeiros por questões de segurança seguida por Miguel que só pensava no que mais havia de acontecer.
O fumo que se encontrava no ar fez com que as lágrimas caíssem involuntariamente pela cara de Rosa. Ou talvez não. Eram emoções a mais para aqueles dias. Ao avançar olhava para as instalações e ia-se apercebendo que a zona dos escritórios estava bastante danificada. Rosa avistou o pai a falar com o comandante dos bombeiros e acelerou o passo.  O seu coração queria pular do peito, à medida que se aproximava do pai.
Quando se abeirou do pai, cheio de fuligem, cinzas e cheiro a fumo, abraçou-o como em pequena.
-O mano pai?
-Não sei Rosita, não sei....
-Como é que isto aconteceu?
-Ninguém sabe filha, um senhor que passava deu o alerta e a partir daí olha é o que viste.
- O facto do carro dele estar cá fora não significa que ele esteja lá dentro... -  disse rosa fitando o comandante.
- Sim minha senhora, nada é certo mas os meus homens não encontraram ninguém e já varreram praticamente toda a zona. - o Comandante era um homem com os seus 60 anos e muito seguro do que dizia. Mantivera uma voz calma, como sempre na tentativa de tranquilizar os sinistrados. A última coisa que precisava era de histerismos naquele momento.
- Tu não sabes nada do meu irmão Miguel? 
- Ele ligou-me para aí há 4 horas, para falar do que aconteceu mas não me disse mais nada.
- Que te disse?
- Rosa não vou estar aqui agora a falar desse assunto, por favor.
- Deixa de ser parvo e narcisista quero saber se do que te disse houve alguma coisa que possa ligar ao que está a acontecer.
- Meninos por favor, não é o momento. Rosa o teu marido já disse que não sabe de mais nada.
-Liga à palerma da Carla. Ela deve saber de alguma coisa. Liga Miguel, já e aqui ao pé de mim de preferência!
De facto aquela podia ser uma pista. Com aquela confusão Miguel nunca mais se lembrou que a Carla sabia sempre de tudo, principalmente se tivesse a ver com o cunhado de Miguel. Respirou fundo e procurou o número na lista...