No tempo das amoras tudo pode acontecer.

12 de fevereiro de 2012

regresso a casa

Rosa demorou quase uma hora no banho. Esperava que um duche demorado lhe levasse para longe as memórias do fim de semana tenebroso e lhe lavasse a mágoa que sentia ferver por dentro. O banho sempre fora para si uma espécie de terapia. Quando um problema a assombrava cumpria todo um ritual que incluía música chill out, incenso com aroma a frutos silvestres e um gel de banho que tinha comprado da primeira vez que fora a Londres. Esta era aliás a compra que repetia em doses industriais sempre que voltava a terras de sua majestade. O aroma de baunilha e canela do gel de banho combinava na perfeição com o aroma a frutos silvestres do incenso e o banho acabava por revelar-se verdadeiramente um momento de prazer.
Lembrava-se perfeitamente dessa primeira viagem a Londres. Uma viagem de amigos onde o Miguel também tinha participado. Teriam uns dezanove anos e foi a sua primeira viagem grande sem os pais. O aroma do gel de banho trazia-lhe sempre as memórias dessa viagem, cheirava a liberdade e a felicidade.
Naquele fim de tarde fora a excepção. Nem o banho conseguia apagar o que Rosa sentia. Saiu do banho, enrolou-se na toalha, besuntou-se com o seu hidratante preferido e meteu-se na cama. Tomou um comprimido e trancou a porta do quarto, não fosse chegar o Miguel.
Enrolou-se na cama com o edredão por cima, tal como um bichinho em posição fetal, esperando que lhe trouxesse algum conforto. Adormeceu cansada de tanto chorar

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