No tempo das amoras tudo pode acontecer.

31 de março de 2011

O caminho para Cerveira foi feito quase sempre em silêncio. João conhecia bem o caminho. Vários foram os fins de semana que passou lá com a mulher, era sem dúvida um sitio bonito.
O silêncio foi interrompido por Miguel.

-Que é que eu lhe vou dizer?
-Pois... Não sei. Nem sei como é que tens lata para lhe aparecer à frente, meu. Ainda é cedo, não achas?
-Tenho de a ver João. Não posso deixar de falar com ela. Se deixar de aparecer vai parecer que estou bem com a situação e não estou.
- Tu é que sabes. Eu tenho para mim que ela não vai querer ver-te à frente, se quisesse tinha ficado em casa.
- Pois, imagino que não, mas eu não posso deixar as coisas ficarem assim.
- Eu ainda não percebi é como é que isto foi acontecer logo com vocês. Sempre foste tolo pela Rosa, sempre vos imaginei velhinhos e juntos, sem problemas... E agora esta "bomba"... Ui se fosse com a minha mulher podes querer que eu não precisava de vir atrás dela. Ela própria se encarregava de me encontrar mas era para me matar, no mínimo. A mim e à outra. Quem tinha de se isolar era eu.
-Bem sabes que a Rosa é diferente da Maria. Espero realmente que ela esteja em Cerveira, se não estiver não faço ideia para onde possam ter ido.

A estrada para Cerveira não havia mudado nada. À chegada, a paisagem permanecia igual a todos os outros finais de Verão. No ar sentia-se o aroma das uvas prontas a serem pisadas nos muitos lagares da zona. A entrada na propriedade foi saudada como sempre pelo senhor Manuel.
O senhor Manuel era o caseiro simpático que acompanhara sempre a família e que tratava não só da casa de Rosa como das outras casas da propriedade, todas da sua família. Sempre de sorriso afável e de enxada na mão, recebeu-os como sempre.

-Olá menino! Estava a achar estranho deixarem vir só as mulheres passar cá o fim de semana. Não vinham mal mas... isto sabe sem é em família, não é? Menino Miguel tem de tratar bem a Rosinha, está tão branquinha que parece que até encolheu! É dessa vida que vocês levam sempre a correr lá na cidade! Isso nem lhes dá saúde! Faltam-lhes as cores cá do campo, do cheiro da terra. Fazem bem vir cá no fim de semana. Vou dizer à minha mulher para lhes ir lá a casa levar uma bola feita com carninha caseira, acabou de as fazer à pouco, regado com uma pinga do novo vão ver que saem daqui como se fossem outros.
-Não se incomode senhor Manuel não nos devemos demorar. Mas a minha mulher já está cá?
-Está menino, chegou cedo com a amiga. Ainda agora lá passei e vi-as no alpendre a descansar. É p'ro que está bom! Olhe vou andando que tenho os bichos à espera para recolher, não se demore também que breve vai-se o dia!
-Obrigada senhor Manuel, até logo.

Elas estavam lá. Menos mal. Assim estavam seguras.
João avançou a medo, dando assim mais uns minutos para o amigo pensar. Mas Miguel não pensava em nada. Ia fazer tudo por impulso. Já conseguiam ver a casa e as duas amigas afiguravam-se no alpendre, ao longe.

- Ok João. Obrigada mas agora é comigo, vai estacionando o carro que a partir daqui eu vou a pé.

Queria que o senhor Manuel tivesse razão. Queria que saíssem todos dali como novos. Desconfiava que não ia consegui-lo só com a bola de carne e a pinga do novo. Rezava para que sim.

30 de março de 2011

A procura

... Rosa ouvia a voz do marido e ficou muda. As lágrimas caíam-lhe silenciosas, abafadas pelo colo da amiga.

-Rosa eu sei que já sabes de tudo. Não és parva nenhuma. O Parvo fui eu! Perdoa-me por favor, dá-me pelo menos um minuto para me explicar. Ou então não me perdoes mas deixa-me falar contigo... Onde estás? Estás sozinha? Estou preocupado...
-Não estou sozinha, estou bem. - A voz saía-lhe mais firme do que alguma vez imaginara mas não pretendia alimentar o diálogo por isso desligou a chamada.
-Muito bem Rosa, de onde veio essa força? - Também Maria havia ficado surpreendida com o tom de voz da amiga - De onde vem essa força espero que haja muito mais.

     Rosa sorriu e também ela se sentiu bem melhor. Ouvir o marido implorar só tinha aumentado o seu repúdio. Não era esta a reacção que esperava dele. Sempre o tivera como uma pessoa determinada e que assume tudo o que faz independentemente das consequências.
    Miguel encheu o copo de whisky e gelo e rodava-o na mão enquanto pensava no que fazer e onde estaria a mulher. Será que ela tinha conseguido ser tão forte como parecia. A verdade é que Rosa o surpreendia a cada passo, desde o pormenor do bolo e a perspicácia da foto do ecrã de fundo passando pela forma firme como respondera ao telefone, esta era sem dúvida uma mulher diferente da sua. E com quem estaria ela? Seria verdade que não estava sozinha? Ela não ia directa para a casa dos pais certamente, não os iria querer alarmar. Só podia estar com a Maria a sua grande amiga.

-É isso! - pensou- Ela está na casa da Maria certamente. A casa dela é grande suficiente para acolher a Rosa e ela sempre se sentiu bem lá.

    Miguel pouso o copo intacto e saiu disparado em direcção a casa de Maria. Pelo caminho ponderou que ela não iria abrir-lhe a porta dadas as circunstâncias. Ou iria certamente mentir-lhe e dizer que a sua mulher não estava lá.
   Quando chegou lá foi o João, o marido de Maria que abriu a porta.

-Miguel?! Que surpresa! Não me digas que a minha mulher tinha combinado um jantar cá em casa e eu esqueci-me outra vez... Estou tramado! Na volta tinha de comprar vinho ou alguma coisa e não... -João só parou quando reparou na cara transtornada do amigo. - Não é nada disso pois não? A julgar pelo teu ar não é certamente pelo jantar que estás assim, muito menos por eu me ter esquecido dos ingredientes... Qué pasa meu?
- A minha mulher está aí? Diz-me a verdade por favor.
- Não Miguel. Nem a tua nem a minha. Aliás, agora que falas nisso, a esta hora ela já costuma aqui estar. Que aconteceu? Estás a deixar-me assustado...
-Faz-me um favor, liga à Maria e pergunta-lhe onde está. Não digas nada, pergunta-lhe só onde está, não digas que estou aqui.
- Preferia que me explicasses, não gosto de mentir à minha mulher meu. Ela tem tipo antenas, capta logo o que se passa parece bruxa! Eu ligo-lhe, mas não te garanto que ela não desconfie.

-Estou? Mi? Onde está amor? Não vens jantar?
- Desculpa, já te devia ter ligado. Estou com a Rosa. O Miguel fez porcaria da feia. Mas eu depois conto-te, olha não vou dormir a casa, não te preocupes está tudo bem comigo.
-Mas estás onde?
-Estou com a Rosa, estamos a hibernar, mal possa ligo-te, vou desligar.

-Estás com azar pá. Ela não me adiantou nada! Só me disse que fizeste asneira. Que andaste a tramar pá?
-Traí a Rosa e ela descobriu tudo. Descobriu no dia em que eu ia acabar com tudo com a outra. 
- Isso é azar meu mas também arriscaste.
-Mais do que pensas. Traí-a com a Carla!
-Quem? A ruiva que é amiga dela? Aquela toda maluca? 'Tás a Gozar!
-Essa.
-Ela nem faz o teu tipo! Tu é mais certinhas e ela é toda maluca, que te deu.
-Sei lá, olha vai-se a ver foi mesmo por isso. Por ser diferente da rotina. 
-Mas ela é amiga da tua mulher meu! Como é que ela conseguiu? E tu também! Estou parvo meu. Mas... E agora?
-Agora quero falar com a Rosa e não sei onde ela está. Olha vou-me meter no carro e vou a todos os sítios que me vier à cabeça. Fui.
-Ei onde vais? Nem penses, achas que te vou deixar sair daqui a conduzir assim? Tás todo maluco pá, ainda te espetas na primeira curva! Anda, tenho o meu carro fora da garagem eu levo-te onde quiseres. Mas já te aviso, para que conste à minha mulher, NÃO estou a tomar o teu partido! É que se não ainda sobra para mim!

Miguel sorriu e anuiu. Conhecia a mulher do amigo e sabia que ela não ia gostar de o ver associado a ele. Ambos entraram no carro e olharam um para o outro.

-Para onde pá? - inquiriu João.
-Para Cerveira. A Rosa adora Cerveira.

29 de março de 2011

Sentada no alpendre, Rosa estava aninhada no colo da sua amiga. Tudo parecia ainda um pesadelo, um sonho mau do qual não conseguia sair, e o pior é que a protagonista.
Que estaria Miguel a fazer naquela altura? Será que já foi a casa e viu o bolo estratégicamente colocado ao lado do computador? A Carla havia tido uma ideia boa, o bolo ia certamente chamar a atenção de miguel para o computador.
De repente o telemóvel de Rosa toca no seu bolso. Nem sabia que o tinha trazido consigo, tinha-o colocado no bolso ainda ligado após ter falado com a amiga a não mais o tirou. Rosa pegou no aparelho e no ecrã podia ver "amor", com a foto do marido atrás.

- Que faço Maria? Atendo? Que lhe digo?
- Atende. Mas não digas nada, deixa-o falar. Não lhe digas onde estás!
- Não consigo...
- Carrega na tecla e não digas nada.

Rosa carregou no botão mas ficou muda. As lágrimas caíam-lhe pela cara à medida que ouvia a voz do marido.

-Estou? Rosa... Temos de falar... Estou amor? Estás a ouvir-me? Por favor diz-me só alguma coisa para ouvir que estás bem.

Do outro lado só ouviu silêncio

28 de março de 2011

Miguel

Miguel estava na casa de Carla, ambos sentados na sala olhavam para o computador atordoados. Ele estava verdadeiramente em pânico. Só em pensar que a sua mulher havia descoberto tudo e daquela forma fazia-lhe encolher a alma.

- Que raio fui eu fazer Carla?! Pior, o que FOMOS fazer?
- E agora? O que vamos fazer? Tens ideias? Ela de parva tem pouco, certamente que já percebeu. Como é que eu não vi logo que não eras tu que me estavas a responder?
-Sinceramente isso agora não me interessa nada. A verdade é que a minha intenção era vir aqui pôr um ponto final nesta brincadeira toda. Foi para isso que vim cá hoje, logo hoje.
-Como? Vieste cá hoje para quê?
- É como ouviste Carla. Tudo isto foi um erro. Um erro de ambos, mas foi um erro.
- Agora vais fazer de mim a má da fita. Tenho a dizer-te que a tua mulherzinha nunca mais te vai querer ver à frente. Se bem a conheço, a esta hora está fechada em casa e já tratou de arrumar a tua malinha e mandá-la para casa dos teus pais. Ou, na melhor das hipóteses, vai mandá-la para aqui, já que certamente que descobriu também quem é a outra. A sua melhor e fiel amiga. - Carla usa um tom sarcástico que incomoda verdadeiramente Miguel.
- Vou-me embora, tenho de falar com a Rosa. Nem posso tão pouco pensar que ela descobriu que foi contigo que a traí, nunca lhe quis mal e isso é mau de mais.
-Agora estás a fazer o papel de Madalena arrependida?! Não penses que vais fazer de mim a má da fita. Tens muito mais a perder do que eu, muito mais Miguel. Até agora não pensaste no mal que estavas a fazer à Rosa, souberam-te bem os bons momentos, mas como ela descobriu estás a tentar colocar-me as culpas em cima, não é? Miguel, Miguel, neste momento em que perdeste tudo da parte da Rosa, lucravas mais em ter-me como aliada...

Miguel estava verdadeiramente tonto. Quem era aquela mulher? Que estava Carla a dizer?
Era verdade. Miguel nessa noite tinha como intenção pôr um ponto final naquele relacionamento que nem compreendia muito bem como havia começado. A Carla era uma mulher muito atraente e realmente os momentos de risco que passara ao lado dela tinham-lhe sabido bem, mas Rosa sempre seria a mulher da sua vida.
Estava verdadeiramente arrependido, sentia a terra a fugir-lhe dos pés. Tinha de falar com Rosa, faltava-lhe a coragem.
Em segundos e sem dirigir palavra a Carla, levantou-se e bateu com a porta, ia para casa, lá era o seu lugar, só lá ia ter noção verdadeira do que estava a acontecer.

Na garagem estava o carro de Rosa, ela devia estar em casa, queria mesmo que estivesse. Ao abrir a porta, o cheiro a bolo de chocolate ainda morno estava no ar, de repente uma sensação de bem estar e normalidade invadiu-lhe o coração. Só o silêncio fazia antever o pior. Chamou por Rosa, mas sem sucesso. Viu o computador ligado, com o bolo ao lado delicadamente cortado e instintivamente foi ver os ficheiros abertos.
Era mau de mais. Nem ele queria acreditar que a mulher tinha conseguido ler tudo aquilo. No fundo do ecrã, a foto das duas amigas fazia prever o pior. Rosa sabia mesmo tudo. 
Na casa tudo permanece intacto, como se nada se tivesse passado. Só falta Rosa. Miguel pensou o pior por momentos.

-Meu Deus...Será que ela fez alguma loucura? - As lágrimas caiam-lhe pela face e cada vez mais uma sensação muito próxima da loucura se apoderava dele. 
Apartir de agora iria agir  por impulso, só o coração lhe ia dizer o que fazer...  

27 de março de 2011

O que fazer

      Maria chegara a casa da sua amiga em tempo recorde. A voz que ouvira ao telefone sempre aos soluços nem parecia da sua amiga, podia sentir-lhe as lágrimas, a angústia a cada palavra, a cada silêncio, do outro lado do telefone. Aquela pergunta também a tinha deixado intrigada. Porque raio era tão importante descobrir que mulher tinha o nome de Pedro? Como é que ela não sabia que a Carla tinha Pedro no nome, Ela que sempre fora uma das suas confidentes. Maria tinha de descobrir definitivamente o que se passava com Rosa, iria descobri-lo muito em breve, por isso tocou à campainha do apartamento da amiga de forma insistente.
     Rosa não ouvia a campainha. Estava no computador a tentar descobrir mais peças de um puzzle que de tão macabro parecia surreal. Só voltou para a realidade quando a amiga quase deitava a porta abaixo, após um vizinho a ter deixado subir.
     A sua amiga estava irreconhecível, um farrapo. A cara inchada e a roupa molhada de tanto chorar adivinhavam o pior.

    - Rosa, meu Deus, o que aconteceu? Estás bem? Morreu alguém?
    - Morreu Maria. Morreu a minha relação, o meu casamento, acho que morreu tudo à minha volta.
    - Como? Não estou a perceber nada! Pára de chorar por um segundo por favor, só o suficiente para eu perceber o que raio se está a passar.

      Rosa encaminhou a amiga para o computador do marido e mostrou-lhe as mensagens. Mostrou-lhe ainda tudo o que mais havia descoberto. Todas as outras conversas de cariz muito pouco ortodoxo que ficaram gravadas na memória temporária do computador e que ele se havia esquecido de eliminar. Não havia réstia de dúvida, a outra era a Carla a sua amiga de sempre.
     Maria lia tudo chocada, sem saber o que dizer. Ela nunca consegui gostar muito de Carla, sempre o disse a Rosa, mas nem ela, sempre atenta aos detalhes e pormenores, conseguia prever uma coisa destas. Era sórdido de mais, e há quanto tempo duraria? Como tinha lata aquele mulherzinha, ia jantar lá a casa, iam às compras, partilhava pormenores sobre a relação e depois enfiava-se descaradamente na cama com o marido da melhor amiga...
    Enquanto Maria tentava pensar racionalmente, uma nova mensagem caiu no computador.

    - Parece que me enganei no destinatário, desculpe - podia ler-se no ecrã.

    Claro que nenhuma das duas acreditou naquela mensagem ridícula, entreolharam-se e por um segundo tiveram vontade de rir, muito. Como é que ambos podiam agora ser tão inocentes? Será que a inteligência de ambos não dava para mais? Será que pensavam que Rosa era assim tão tonta para acreditar naquele suposto engano?

     - Que faço Maria? Ajuda-me. Estou perdida. Não sei se vá casa dela e lhes parta tudo agora ou mais daqui a pouco. Não sei se lhe arrumo as malas já ou se mude a fechadura primeiro. Ajuda-me, pensa tu que eu não consigo, tudo o que me passa pela cabeça envolve violência e escândalos a sério, e tu sabes como odeio isso.  - Rosa neste momento odiava-se a ela própria por ter sido tão parva e ignorar todos os sinais, metendo uma cobra na sua casa, na sua vida.
    - Vais imprimir tudo o que descobriste,  e vamos já para a tua casa em Cerveira. O Miguel detesta aquilo não vai ter lata de aparecer por lá, e se aparecer vai sentir-se desconfortável como sempre. Com calma pensas melhor em tudo e esperas que ele diga alguma coisa. Vais pôr a cabeça no lugar e decidir o que fazer, apressa-te a colocar as coisas na mala porque em breve ele aparecerá cá em casa, como se nada fosse. Vai tentar desmentir, virar o jogo, se bem o conheço vai chamar-te paranóica e ludibriar-te com esquemas mal amanhados. Despacha-te. Neste momento é o melhor.

    Rosa percebeu que a amiga tinha razão. Além do mais não iria querer estar em casa quando o marido voltasse a casa e fizesse cara de quem não está a perceber nada. Vila Nova de Cerveira era sem dúvida o melhor local para pensar e, com a companhia de Maria ia ser mais fácil fazê-lo.
   A casa de Cerveira sempre esteve na família de Rosa. Uma casa simples mas muito confortável, totalmente remodelada com um alpendre lindo onde cheirava sempre a flores. Foi muito feliz naquela lugar, por isso quando os pais decidiram oferece-lhe a casa como presente de casamento ficou deliciada. Miguel nunca gostou. Dizia que os fins-de-semana tinham de ser aproveitados de forma diferente e a distância do Porto era a descupla apresentada pare evitar ir ao campo. Não é um rio, uns passaritos ou uma lareira que me vão fazer sair daqui, devias vender aquilo - dizia ele. Rosa jamais o faria
   Em momentos a mala ficou feita e quando deu por si estava no carro com a sua amiga, com as folhas impressas que documentavam o que marido andava a esconder nos últimos tempos.
   Em casa deixou o computador com todos os ficheiros descobertos abertos e como plano de fundo colocou uma foto dela e de Carla tirada num fim-de-semana na Serra da Estrela. Ao lado uma fatia do bolo de chocolate que o marido adorava e que tinha feito horas antes.
     Qual seria a reacção do marido quando visse que Rosa havia descoberto bem mais do que ele imaginava? Que iria fazer? Iria ligar-lhe? E ela como ia reagir?




26 de março de 2011

A descoberta

Rosa não queria acreditar quando as mensagens instantâneas começaram a cair no ecrã do computador do seu marido.

-Ainda demoras muito amor? Não me digas que a sonsa da tua mulher ainda te está a empatar a uma hora destas!

Rosa gelou mas decidiu responder. Como se fosse o seu marido, começou a estabelecer um diálogo.

-Não, desta vez não é ela. Estou aqui preso por um e-mail que me enviaram agora do escritório e é urgente, tenho de dar resposta até que feche a bolsa em Nova Iorque. Prometo que não me demoro.
-Já sabes que estou à tua espera. Vê lá, a mim não precisas de dar as desculpas que dás à Rosinha Tontinha. Não perguntas o que trago vestido? Ou melhor o que não trago?

Rosa não sabia o que responder, estava mesmo a ser traída. Mas quem seria aquela mulher? Seria do escritório? No ecrã aparecia o nome Pedro. Precisava saber mais, ia arriscar.

- Estou mesmo atrapalhado com o relatório e só em pensar em ti não consigo dar resposta... Estás a desconcentrar-me, como sempre.
- Já sabes que não gosto de ti sério, nem concentrado. Isso é bom para a tua Rosinha sonsinha e "sériazinha"... Ainda demoras? Vais chegar tarde, assim já só chegas à sobremesa.
- Agora é a minha mulher que está aqui a lixar-me a cabeça. Um dia passo-me e digo-lhe estou farto de ti, vou para a beira da Pedro. - Rosa jogou a única carta que tinha. Não conhecia nenhuma mulher com o nome Pedro e, tinha certamente pouco tempo, uma vez que Miguel já havia saído de casa há algum tempo. Podia ser desmascarada a qualquer momento-.
-Pedro? Nunca me chamaste Pedro.
- É o nome que coloco para despistar.
- Realmente a Rosa nunca se ia lembrar disso. Confia em ti cegamente, 'tadinha da Rosinha. Mas ela não ia associar, acho que nem sabe que esse é o meu nome do meio. Olha, estão a bater à porta deve ser o jantar que encomendei, vê se te despachas, deixa uma sandezinha feita para a rosinha comer sozinha e anda para a minha beirinha.

Era ele. Rosa sabia que ia ser descoberta naquele momento e que o seu marido havia chegado à casa da outra, por isso esperou. Deixou-se ficar online para ver no que dava.
Definitvamente era alguém que ela conhecia. Mas quem? Apelido do meio Pedro? A sua cabeça estava a mil. Ligou a Maria. Maria sempre soube o nome de toda a gente, sempre foi boa nisso ao contrário de Rosa que não decorava nomes de ninguém.

-Estou Maria?
-Rosa? Que se passa? Que voz é essa?
- Rápido, conheces alguém cujo apelido do meio seja Pedro? Uma mulher.
- Pedro... Pedro... Assim de repente só me lembro da tua amiga Carla. Ela deve ter Pedro no nome, pelo menos o irmão dela que trabalha lá no banco também tem Pedro no apelido. Mas porquê?....
Estou?... Rosa? Estás a assustar-me... Rosa...

Rosa já não ouvia a sua amiga. Como era possível nunca ter reparado. A Carla, sua amiga desde os tempos de liceu, que esteve sempre lá em casa em todos os momentos, madrinha do seu casamento... 
Rosa não sabia o que pensar, não pensava. A sua cabeça estava vazia, assim como o seu coração. O seu marido tinha um caso com uma das suas melhores amigas e ela nunca tinha desconfiado nem por um segundo. Naquele momento o tempo parou e ela nem se apercebeu que Maria tinha ficado tão preocupada que se metera no carro e em breve batia à sua porta...  

A relação

Miguel era o namorado se sempre. Era o amor desde os tempos do liceu que resistiu à faculdade e que culminou num casamento lindo após 8 anos de namoro. 
Naquela tarde no alpendre, Rosa recordava a altura em que se conheceram numa festa de adolescentes. Logo que o viu, Rosa sabia que haveria de ser aquele o homem da sua vida, o pai dos seus filhos. Até então nunca tinha acreditado nessas coisas do amor à primeira vista. 
Com o passar dos anos, ambos cresceram, amadureceram e conseguiram ambos carreiras sólidas, e cada vez mais Rosa estava certa das suas convicções iniciais, logo que o conheceu numa tarde quente de fim de Setembro.
A sensação que invadiu Rosa foi ainda pior. Foi numa tarde como aquela que havia conhecido o Miguel. Foi numa tarde assim que, em tempos, soube que o amor havia finalmente batido à porta, e de uma forma arrebatadora. Agora, anos volvidos, as  suas certezas caíam por terra.
O Miguel era bonito. Sempre o fora. Os olhos esverdeados e a tez morena em conjunto com o cabelo sempre estrategicamente desalinhado faziam dele um homem verdadeiramente atraente. Os anos passaram por ele de forma generosa, deixando-lhe de prenda um charme natural e irresistível. Andava sempre bem cuidado, bem vestido e com uma aparência digna de suscitar o interesse de qualquer pessoa. Era definitivamente um homem interessante.
Rosa sempre soube que o seu marido suscitava o interesse também por parte das mulheres que o rodeavam. Sempre assim foi. A verdade é que ele nunca lhe havia dado qualquer motivo para desconfiar de nada. Nunca foi D. Juan e a relação deles sempre foi pautada por uma estabilidade e união avassaladoras. As amigas costumavam dizer que ele era imune aos flirts e investidas que se pudessem fazer, e Rosa sempre foi obrigada a concordar e, por isso mesmo, nunca foi ciumenta.

-Sempre pensei que fosse possível ele ter um "deslize" com alguma das secretárias lá da firma, ou mesmo com uma cliente, mas nunca, em tempo algum, poderia tão pouco sonhar com este pesadelo. É sórdido de mais Maria, não sei o que pensar.
- Também eu estou chocada, também nunca pensei que ele fosse capaz de uma vida assim, quase dupla.  Mas tu vais ter de ser forte.

A noite passada foi de tormento. O seu computador estava avariado e não conseguia ter acesso ao ficheiro demasiado extenso que lhe tinham mandado para o e-mail, por isso decidiu usar o computador do marido e resolver temporariamente o problema. Felizmente ele havia deixado o seu computador ligado quando saiu à pressa para o encontro com um cliente.
Rapidamente aquilo que parecia uma sorte virou pesadelo. De repente tinha alguém a falar consigo por mensagens instantâneas, perguntando se o seu amor demorava muito...

A noite ia ser longa, os momentos seguintes prometiam. Deve haver algum engano, rezou.

25 de março de 2011

Desmoronar

Setembro ia quente.
Apesar do fim de tarde solarengo que convida à preguiça Rosa nunca se sentira tão fria.
O seu coração estava gelado e nem a presença da sua amiga de sempre, Maria, a ajudava naquele momento.
Rosa é uma mulher de sucesso. O seu emprego numa multinacional, onde detém um cargo de chefia, e o seu casamento de quatro anos com o seu amor de sempre assim a levavam a pensar.
A brisa quente daquela tarde de Outono traz lembranças de momentos felizes. Ainda ontem a vida parecia perfeita e de repente tudo mudou.
O alpendre da casa de campo é o lugar ideal para fugir a uma realidade que sabe que, mais tarde ou mais cedo, terá de aceitar.

- Como é que ele me conseguiu fazer uma coisa destas, Maria? Como? Nós tínhamos tudo!

As lágrimas caíam-lhe pela face enquanto aguardava a resposta da amiga que tardava em surgir. Maria olhava a amiga em silêncio enquanto pensava como lhe deveria dizer que há muito suspeitava que o seu casamento vivia alimentado num só sentido. 

- Pensei sempre que já desconfiavas Rosa. 
- Como assim? Achas que se pensasse que o meu marido andava metido com uma galdéria qualquer não tinha já feito alguma coisa? Mas... porquê isso agora? Tu já sabias? Maria... Tu sabias e não me disseste?!
- Calma Rosa. Eu não sabia de nada. Pelo menos não em concreto. Mas desde há algum tempo para cá, o Miguel tem agido de forma estranha connosco. Evita jantares em conjunto, fica incomodado quando o tema da conversa são os affairs de alguém conhecido, passava imenso tempo distante e com o telemóvel sempre na mão. O trabalho não lhe ocupa tanto tempo assim.

Roso ouve a amiga e reporta-se para as noites em que o marido chegava exausto a casa, a horas tardias sempre culpando o trabalho e as horas extra que o chefe o obrigava a fazer no escritório ou as reuniões com clientes estrangeiros.
Aqueles períodos de ausência de uma ou duas semanas faziam agora todo o sentido...

24 de março de 2011

As amoras e o amor

As amoras são como o amor.
Nascem sem ninguém as plantar e quase sempre onde não se quer.
São sazonais e por vezes despontam do arbusto mais feio e desagradável.
O seu aroma é inconfundivel nos fins de tarde quentes do início de Outono.
Mas as amoras não precisam de cuidados, não precisam de cultivo nem de adubo, muito menos de terra fértil para surgir.
Afinal quem disse que as amoras são como o amor?! Fiquem para ver.