No tempo das amoras tudo pode acontecer.

25 de março de 2011

Desmoronar

Setembro ia quente.
Apesar do fim de tarde solarengo que convida à preguiça Rosa nunca se sentira tão fria.
O seu coração estava gelado e nem a presença da sua amiga de sempre, Maria, a ajudava naquele momento.
Rosa é uma mulher de sucesso. O seu emprego numa multinacional, onde detém um cargo de chefia, e o seu casamento de quatro anos com o seu amor de sempre assim a levavam a pensar.
A brisa quente daquela tarde de Outono traz lembranças de momentos felizes. Ainda ontem a vida parecia perfeita e de repente tudo mudou.
O alpendre da casa de campo é o lugar ideal para fugir a uma realidade que sabe que, mais tarde ou mais cedo, terá de aceitar.

- Como é que ele me conseguiu fazer uma coisa destas, Maria? Como? Nós tínhamos tudo!

As lágrimas caíam-lhe pela face enquanto aguardava a resposta da amiga que tardava em surgir. Maria olhava a amiga em silêncio enquanto pensava como lhe deveria dizer que há muito suspeitava que o seu casamento vivia alimentado num só sentido. 

- Pensei sempre que já desconfiavas Rosa. 
- Como assim? Achas que se pensasse que o meu marido andava metido com uma galdéria qualquer não tinha já feito alguma coisa? Mas... porquê isso agora? Tu já sabias? Maria... Tu sabias e não me disseste?!
- Calma Rosa. Eu não sabia de nada. Pelo menos não em concreto. Mas desde há algum tempo para cá, o Miguel tem agido de forma estranha connosco. Evita jantares em conjunto, fica incomodado quando o tema da conversa são os affairs de alguém conhecido, passava imenso tempo distante e com o telemóvel sempre na mão. O trabalho não lhe ocupa tanto tempo assim.

Roso ouve a amiga e reporta-se para as noites em que o marido chegava exausto a casa, a horas tardias sempre culpando o trabalho e as horas extra que o chefe o obrigava a fazer no escritório ou as reuniões com clientes estrangeiros.
Aqueles períodos de ausência de uma ou duas semanas faziam agora todo o sentido...

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