No tempo das amoras tudo pode acontecer.

7 de fevereiro de 2012

Após um pequeno silêncio Maria decidiu que devia dar um puxão de orelhas à amiga. Nunca foi de ficar muito tempo em silêncio, muito menos se tivesse alguma coisa para dizer. Costumava dizer que tinha uma garganta larga, nada lhe ficava atravessado, o que tinha a dizer saía logo, sem pensar duas vezes.
-Rosa isto não são maneiras de falares com a tua mãe. Coitada, já viste o sofrimento dela também? Nem te passa a angústia da mulher enquanto não sabia do teu irmão e tu sais dali assim, sem dizer água vai?!
-Maria, os meus pais assim o querem. Sabem da historinha que o meu irmão contou e já estão a tomar o partido do Miguel. Ninguém me perguntou nada, se estava bem, se precisava de alguma coisa, o que se tinha passado, NADA! E o meu pai ainda acha que o Miguel é que deve ir com ele avaliar estragos na fábrica. Não é normal. 
- O teu pai só fez isso para te proteger, provavelmente não quis que corresses perigo ao visitar as instalações após um rescaldo, convenhamos que não será propriamente fácil.
- O que não é propriamente fácil é aguentar o que eu estou a ver que vai ser a minha vida. - Os olhos de Rosa encheram-se novamente de lágrimas -  Agora vou para a minha casa Maria e o que vou encontrar lá? Outro rescaldo com consequências bem mais graves do que este que abalou a empresa. 
Chegaram a casa de Rosa rapidamente. Não havia transito na cidade, aparentemente todos os condutores de Domingo haviam escolhido outra zona para passear.
O portão abriu-se e nunca aquele barulho familiar e quotidiano pareceu tão angustiante. Ambas fingiram não sentir e o carro deslizou para a garagem.
-Tens a certeza que queres ficar cá? Não queres vir antes para minha casa até isto se resolver?
-Isto está mais que resolvido. O Miguel vai ter de sair cá de casa. Quem fez a despesa agora que pague a factura. Que vá para a casa da Carla se assim o entender, vai custar-me mas esta é a minha casa, eu fico. E tu vai-te embora que já são mais do que horas.
- Tens a certeza que ficas bem?
- Não te preocupes. Já fizeste muito. Até amanhã. Qualquer coisa eu ligo-te, já sabes que sou abusadora.
- Pois sim, está bem está. Tem calma. Toma um calmante que dormes que nem um anjo.
Maria atirou um beijo à amiga e voltou a sair da garagem. O tempo passara e nem se dera conta que o seu marido fazia anos no dia seguinte, por pouco esquecia-se que tinha toda uma festa programada. Voou para casa.
Rosa rodou a chave na fechadura da porta de entrada e respirou fundo. O que iria encontrar? Será que o seu marido já havia cumprido aquilo que ela o obrigara a fazer? Será que tinha feito a mala? Fechou os olhos e entrou.
O aroma da casa estranhamente tranquilizou-a, ao contrário do que imaginara, voltar a casa não foi tenebroso, mas antes apaziguador. 
O bolo continuava no mesmo sitio, em cima do balcão da cozinha. Faltava apenas a fatia que a amiga havia cortado e que jazia intacto ao pé do computador, onde havia sido estrategicamente colocado. O computador, esse tinha sido desligado. 
O atendedor de chamadas acendia freneticamente a luz vermelha. Claro, devia estar inundado de chamadas... Estava sem paciência para ouvir a repetição dos capítulos anteriores, ignorou as mensagens e trancou-se no quarto.
-Um banho, eu preciso é de um bom banho. 


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