No tempo das amoras tudo pode acontecer.

1 de abril de 2011

Perdoa-me

Miguel caminhava firme pelo caminho de pedras cuidadosamente varridas pelo caseiro, ladeado por belas granjas floridas. O aroma das flores e da fruta madura misturavam-se, dando um ar menos pesado ao ambiente que se adivinhava.
No alpendre a figura das duas amigas apresentava-se cada vez mais nítida. Rosa tinha a cabeça pousada no colo de Maria, sentia-se segura assim. Foi Maria quem primeiro avistou o marido da amiga.

-Temos companhia Rosa... E desta vez não é o tio Manuel. O teu marido é mais fino do que eu pensava, veio cá ter como um GPS, certinho.

Rosa levantou a cabeça conseguindo balbuciar apenas um "Chegou a hora".

- Que queres que faça amiga? Deixo-te com ele? Queres que fique? Queres que fique perto?
- O que tiver de ser será Maria. Estou calma. Os ares daqui dão-me clareza mental. Não te preocupes, se eu precisar grito.
-Bem, vou então apanhar umas uvas para a sobremesa e ver se o senhor Manuel sempre me dá uma garrafinha do novo.

Maria levantou-se deixando a amiga sentada no banco de madeira, a olhar para o infinito e com o coração prestes a saltar pela boca. Caminhava a passos largos em direcção a Miguel, cruzando com ele mesmo ao pé do canteiro das rosas que emanavam um intenso perfume. Cumprimentaram-se com uma discreta troca de olhares. 
Mal passou por ele pensou que estava em falta com o marido e de repente o seu telefone tocou, era ele.

-Estou? Maria? Nem vais acreditar mas... Estou aqui também!
-Aqui onde?
-Aqui em Cerveira! Estou atrás da casa azul! Anda cá ter que eu explico-te.
-Trouxeste o Miguel?
-Claro! Querias que o deixasse vir a conduzir feito maluco? Não chegava cá certamente. Vá, anda cá ter e conta-me tudo!

Miguel via Rosa cada vez mais nitidamente e isso assustava-o. Sentia o mal-estar da mulher aumentar a cada passa que dava, tendo-se aproximado apenas o suficiente para a ouvir e para se fazer ouvir. Sentia necessidade dessa "distância de segurança".

-Desculpa Rosa. Não sei que mais te posso dizer. Tens todos os motivos para não me querer ver mais à frente mas tenho de te pedir desculpa.
-Tens razão. Não quero ver-te mais à frente. Nem sei porque vieste cá.
-Acho que te devo uma explicação, para além do óbvio pedido de desculpas. 
-Não me parece que tenhas muito para explicar. Andas metido com a Carla, nossa madrinha de casamento. Foi bom?
- Tens direito de expor as coisas como quiseres. Não aconteceu há muito tempo, foi uma coisa recente, uma estupidez.
- Por mim... até podia durar desde o início do nosso casamento, para mim era igual ao litro, vale o mesmo.
- Mas não foi, sempre te respeitei. Só aconteceu no mês passado, quando tivemos aquela discussão.
- Não vás por aí. Daqui a nada estás a dizer que a culpa é minha por ser má esposa.
- Nunca to direi, sabes que não é o que sinto. Há só dois culpados nesta história e sou eu e a Carla, mais ninguém.
- O que a Carla me deve é entre mim e ela. Não tens de falar dela, não quero ouvir a tua versão da Carla. Não quero ouvir mais o nome dela vindo de ti. O meu negócio com ela é outro.
- Ok falemos de mim. Que posso eu fazer? Estou muito arrependido. Sei que não te interessa para nada mas o que fui fazer hoje a casa dela foi pôr um ponto final nesta estupidez.
-Sim, tens razão, não me interessa nada. Nada que digas agora me interessa.
- Falhei Rosa, falhei muito. Quero que saibas que foi uma loucura. Não pensei, aconteceu. Não tem desculpa. Sei que te magoei, sinto-me mal com isso.
- Não te sintas mal por mim, tens de te sentir mal por ti.
- E sinto Rosa. Sei que não tem desculpa mas a história de quereres engravidar deixou-me fora de mim, completamente retirado da minha realidade, não me sinto preparado para isso.
- Não tens de te preocupar quanto a isso. Agora não só não quero um filho teu como não te quero a ti. Essa é a desculpa mais estúpida que já ouvi.
- Não é desculpa Rosa. O que fiz não é desculpável e não me quero escusar atrás de explicações. O que vim aqui fazer foi pedir-te desculpa. Mais, foi pedir-te perdão.
- Está feito, podes voltar pelo mesmo caminho que vieste. Podes ir para o apartamento no fim-de-semana. É o tempo que tens para decidir se sais tu, ou saio eu. Acabou Miguel, se não te importas fecha o portão da propriedade quando saíres.

Rosa levantou-se do banco de madeira e encaminhou-se para a porta de casa, entrando sem olhar nunca para trás. No mesmo sítio ficou Miguel imóvel, à espera de um olhar, de um perdão, em vão.

4 comentários:

  1. Ai ai Joana...a história fica cada vez melhor!!*

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  2. Olá! amiga nunca esqueças de duas coisas importantes, Só há traição se a vida a dois não for boa, não houver felicidade de um dos lados, porque se houver Amor, compreensão, cumplicidade, ninguém traí , não te esqueças disso na tua historia. Parabéns pelo teu blog. Mas nunca deixes o amor morrer

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  3. Esta história está cada vez mais envolvente.
    Fascinante. Parabéns e continuações! Estou a adorar.

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