No tempo das amoras tudo pode acontecer.

31 de março de 2011

O caminho para Cerveira foi feito quase sempre em silêncio. João conhecia bem o caminho. Vários foram os fins de semana que passou lá com a mulher, era sem dúvida um sitio bonito.
O silêncio foi interrompido por Miguel.

-Que é que eu lhe vou dizer?
-Pois... Não sei. Nem sei como é que tens lata para lhe aparecer à frente, meu. Ainda é cedo, não achas?
-Tenho de a ver João. Não posso deixar de falar com ela. Se deixar de aparecer vai parecer que estou bem com a situação e não estou.
- Tu é que sabes. Eu tenho para mim que ela não vai querer ver-te à frente, se quisesse tinha ficado em casa.
- Pois, imagino que não, mas eu não posso deixar as coisas ficarem assim.
- Eu ainda não percebi é como é que isto foi acontecer logo com vocês. Sempre foste tolo pela Rosa, sempre vos imaginei velhinhos e juntos, sem problemas... E agora esta "bomba"... Ui se fosse com a minha mulher podes querer que eu não precisava de vir atrás dela. Ela própria se encarregava de me encontrar mas era para me matar, no mínimo. A mim e à outra. Quem tinha de se isolar era eu.
-Bem sabes que a Rosa é diferente da Maria. Espero realmente que ela esteja em Cerveira, se não estiver não faço ideia para onde possam ter ido.

A estrada para Cerveira não havia mudado nada. À chegada, a paisagem permanecia igual a todos os outros finais de Verão. No ar sentia-se o aroma das uvas prontas a serem pisadas nos muitos lagares da zona. A entrada na propriedade foi saudada como sempre pelo senhor Manuel.
O senhor Manuel era o caseiro simpático que acompanhara sempre a família e que tratava não só da casa de Rosa como das outras casas da propriedade, todas da sua família. Sempre de sorriso afável e de enxada na mão, recebeu-os como sempre.

-Olá menino! Estava a achar estranho deixarem vir só as mulheres passar cá o fim de semana. Não vinham mal mas... isto sabe sem é em família, não é? Menino Miguel tem de tratar bem a Rosinha, está tão branquinha que parece que até encolheu! É dessa vida que vocês levam sempre a correr lá na cidade! Isso nem lhes dá saúde! Faltam-lhes as cores cá do campo, do cheiro da terra. Fazem bem vir cá no fim de semana. Vou dizer à minha mulher para lhes ir lá a casa levar uma bola feita com carninha caseira, acabou de as fazer à pouco, regado com uma pinga do novo vão ver que saem daqui como se fossem outros.
-Não se incomode senhor Manuel não nos devemos demorar. Mas a minha mulher já está cá?
-Está menino, chegou cedo com a amiga. Ainda agora lá passei e vi-as no alpendre a descansar. É p'ro que está bom! Olhe vou andando que tenho os bichos à espera para recolher, não se demore também que breve vai-se o dia!
-Obrigada senhor Manuel, até logo.

Elas estavam lá. Menos mal. Assim estavam seguras.
João avançou a medo, dando assim mais uns minutos para o amigo pensar. Mas Miguel não pensava em nada. Ia fazer tudo por impulso. Já conseguiam ver a casa e as duas amigas afiguravam-se no alpendre, ao longe.

- Ok João. Obrigada mas agora é comigo, vai estacionando o carro que a partir daqui eu vou a pé.

Queria que o senhor Manuel tivesse razão. Queria que saíssem todos dali como novos. Desconfiava que não ia consegui-lo só com a bola de carne e a pinga do novo. Rezava para que sim.

4 comentários:

  1. :D

    hum..... soube tão bem....estava mesmo a precisar de mais um bocadinho :)

    Amanhã passo de novo, sem falta :)

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  2. Vamos ver qual é a desculpa dele...

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  3. Ai que curiosidade!!
    Li agora estes dois últimos posts...quero mais xD*

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  4. Estou a gostar imenso da história, eu bem disse que ia passar aqui algum tempo :)

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