No tempo das amoras tudo pode acontecer.

30 de março de 2011

A procura

... Rosa ouvia a voz do marido e ficou muda. As lágrimas caíam-lhe silenciosas, abafadas pelo colo da amiga.

-Rosa eu sei que já sabes de tudo. Não és parva nenhuma. O Parvo fui eu! Perdoa-me por favor, dá-me pelo menos um minuto para me explicar. Ou então não me perdoes mas deixa-me falar contigo... Onde estás? Estás sozinha? Estou preocupado...
-Não estou sozinha, estou bem. - A voz saía-lhe mais firme do que alguma vez imaginara mas não pretendia alimentar o diálogo por isso desligou a chamada.
-Muito bem Rosa, de onde veio essa força? - Também Maria havia ficado surpreendida com o tom de voz da amiga - De onde vem essa força espero que haja muito mais.

     Rosa sorriu e também ela se sentiu bem melhor. Ouvir o marido implorar só tinha aumentado o seu repúdio. Não era esta a reacção que esperava dele. Sempre o tivera como uma pessoa determinada e que assume tudo o que faz independentemente das consequências.
    Miguel encheu o copo de whisky e gelo e rodava-o na mão enquanto pensava no que fazer e onde estaria a mulher. Será que ela tinha conseguido ser tão forte como parecia. A verdade é que Rosa o surpreendia a cada passo, desde o pormenor do bolo e a perspicácia da foto do ecrã de fundo passando pela forma firme como respondera ao telefone, esta era sem dúvida uma mulher diferente da sua. E com quem estaria ela? Seria verdade que não estava sozinha? Ela não ia directa para a casa dos pais certamente, não os iria querer alarmar. Só podia estar com a Maria a sua grande amiga.

-É isso! - pensou- Ela está na casa da Maria certamente. A casa dela é grande suficiente para acolher a Rosa e ela sempre se sentiu bem lá.

    Miguel pouso o copo intacto e saiu disparado em direcção a casa de Maria. Pelo caminho ponderou que ela não iria abrir-lhe a porta dadas as circunstâncias. Ou iria certamente mentir-lhe e dizer que a sua mulher não estava lá.
   Quando chegou lá foi o João, o marido de Maria que abriu a porta.

-Miguel?! Que surpresa! Não me digas que a minha mulher tinha combinado um jantar cá em casa e eu esqueci-me outra vez... Estou tramado! Na volta tinha de comprar vinho ou alguma coisa e não... -João só parou quando reparou na cara transtornada do amigo. - Não é nada disso pois não? A julgar pelo teu ar não é certamente pelo jantar que estás assim, muito menos por eu me ter esquecido dos ingredientes... Qué pasa meu?
- A minha mulher está aí? Diz-me a verdade por favor.
- Não Miguel. Nem a tua nem a minha. Aliás, agora que falas nisso, a esta hora ela já costuma aqui estar. Que aconteceu? Estás a deixar-me assustado...
-Faz-me um favor, liga à Maria e pergunta-lhe onde está. Não digas nada, pergunta-lhe só onde está, não digas que estou aqui.
- Preferia que me explicasses, não gosto de mentir à minha mulher meu. Ela tem tipo antenas, capta logo o que se passa parece bruxa! Eu ligo-lhe, mas não te garanto que ela não desconfie.

-Estou? Mi? Onde está amor? Não vens jantar?
- Desculpa, já te devia ter ligado. Estou com a Rosa. O Miguel fez porcaria da feia. Mas eu depois conto-te, olha não vou dormir a casa, não te preocupes está tudo bem comigo.
-Mas estás onde?
-Estou com a Rosa, estamos a hibernar, mal possa ligo-te, vou desligar.

-Estás com azar pá. Ela não me adiantou nada! Só me disse que fizeste asneira. Que andaste a tramar pá?
-Traí a Rosa e ela descobriu tudo. Descobriu no dia em que eu ia acabar com tudo com a outra. 
- Isso é azar meu mas também arriscaste.
-Mais do que pensas. Traí-a com a Carla!
-Quem? A ruiva que é amiga dela? Aquela toda maluca? 'Tás a Gozar!
-Essa.
-Ela nem faz o teu tipo! Tu é mais certinhas e ela é toda maluca, que te deu.
-Sei lá, olha vai-se a ver foi mesmo por isso. Por ser diferente da rotina. 
-Mas ela é amiga da tua mulher meu! Como é que ela conseguiu? E tu também! Estou parvo meu. Mas... E agora?
-Agora quero falar com a Rosa e não sei onde ela está. Olha vou-me meter no carro e vou a todos os sítios que me vier à cabeça. Fui.
-Ei onde vais? Nem penses, achas que te vou deixar sair daqui a conduzir assim? Tás todo maluco pá, ainda te espetas na primeira curva! Anda, tenho o meu carro fora da garagem eu levo-te onde quiseres. Mas já te aviso, para que conste à minha mulher, NÃO estou a tomar o teu partido! É que se não ainda sobra para mim!

Miguel sorriu e anuiu. Conhecia a mulher do amigo e sabia que ela não ia gostar de o ver associado a ele. Ambos entraram no carro e olharam um para o outro.

-Para onde pá? - inquiriu João.
-Para Cerveira. A Rosa adora Cerveira.

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